Para contextualizar melhor o Dia da Árvore e a Entrada da Primavera, duas datas importantes no calendário escolar, a Casinha Feliz resolveu dividir com seus educandos a responsabilidade social para com a preservação da natureza. Iniciamos nossos estudos pela defesa do pequizeiro que sofreu agressões em seu tronco e corre sérios riscos de desaparecer, em função da ação do homem e em nome do tal progresso inconsciente.
Nossas metas se fortaleceram após o recebimento da carta de João Bosco Paiva de Oliveira, avô de nossa ex-aluna, Beatriz Paiva Martins de Oliveira, que se juntou à Comunidade Casinha Feliz com o propósito de sensibilizar moradores da região e demais goianienses, incluindo autoridades responsáveis pela preservação ambiental e bem estar da população. Sr. João Bosco escreveu uma carta culta, política e poética e ao se colocar no lugar do Pequizeiro fala para adultos e crianças dizendo em um de seus parágrafos:
“Para piorar um homem insensível com sua moto-serra feriu-me de morte, tirando um naco de quase 40 cm de meu tronco e mesmo assim busquei força e aqui estou florido e dando um toque de beleza em sua cidade. Finalizando, espero que vocês aprendam que preservando a natureza vocês preservam a vida no planeta. Destruindo-a, vocês serão destruídos com ela”.
Sr. João Bosco e sua netinha Beatriz Paiva |
Isadora B., Giovanna e Isadora M. do 2º Ano saudando a linda flor de nosso pequizeiro. |
A flor combina com a sensibildade e suavidade das crianças, que passaram a colher as flores que caem do pequuizeiro para compartilhar com as amigas da escola. |
Tia Lúcia enviou o texto acima para o Jornal O Popular e eles publicaram em sua seção "Cartas dos Leitores" Vamos conferir a publicação e ler a linda carta que a Casinha Feliz recebeu do Sr. João Bosco sobre seus sentimentos com relação ao pequizeiro da Rua 2, bem pertinho da nossa Escola.
O Pequizeiro da Rua 2
Durante quase cinco anos residi na Rua 7 do Setor Oeste, de 2004 a 2009. Naquela época, eu fazia caminhada na calçada do zoológico de Goiânia todos os dias.
Por morar perto do zoológico, eu descia caminhando pela Rua 2 e na calçada próxima ao Centro Educacional Casinha Feliz, ao lado do antigo Igope, onde está sendo construído um condomínio residencial, existe um pequizeiro que pela espessura e cerne de seu tronco com certeza já existia quando da fundação da cidade.
Por ficar exatamente onde seria a calçada e pela atitude sábia e generosa de um bom goiano, ele não foi derrubado, quando as ruas foram abertas no setor.
Durante o ano inteiro, eu acompanhava todas suas transformações naturais que acontecem durante as estações do ano. No inverno suas folhas amadurecem e caem lentamente, mas no fim desta estação e meados da primavera, o pequizeiro rejuvenesce com brotos e folhas novas e, de imediato, aparecem os bulbos que irão originar as belas flores. Durante várias semanas, parte da calçada e asfalto ficam cobertos de flores suavemente amarelas. É um espetáculo maravilhoso.
Logo começam a aparecer os frutos, e na primavera e no verão, suas folhas ficam fortes, com a cor verde oliva, para no outono iniciar um novo ciclo.
Outro dia senti vontade de vê-lo novamente, pois pela época, ele deveria estar florido. Chegando lá, verifiquei que minha expectativa se confirmara. Estacionei meu carro e passei a admirá-lo. Comecei a imaginar qual a mensagem que aquele pequizeiro, caso pudesse falar, daria às crianças daquela escola vizinha. Acredito que seria assim:
“Crianças, eu vi nascer sua cidade, por isso assisti às derrubadas de todo o cerrado à minha volta. Sucumbiram outros pequizeiros que aqui existiam, pés de araticuns, mangabeiras, cagaiteiras, muricis, gabirobas cocos do indaiá, goiabeiras araçá, guapeva, cajuzinhos, pitangueiras, barus, bacuparis e muitas outras. Árvores como jatobá, angico, cedro, ipê amarelo, roxo e branco dentre tantas que aqui existiam.
Assisti veados campeiro, catingueiros e pacas comerem minhas flores que caíam ao chão. Vi lobos guarás, tamanduás, queixadas, emas, seriemas, mutuns, perdizes, codornas e muitos outros animais desfilarem em minha frente.
Ouvi o zumbir das abelhas recolhendo os polens de minhas flores, o gralhar das ararás, papagaios e periquitos comendo meus frutos e também o canto dos canários, pássaros pretos, sabiás enfim, todas as espécies de pássaros do cerrado.
Senti o carinho de lindos beija-flores, sugando meu néctar.
Tive a honra de ceder, certa vez, um de meus galhos para meu amigo João de barro construir sua casinha.”
Aos adultos ele diria:
“Vocês que passam indiferentes a minha frente, sem me notar, saibam que sou mais goiano que vocês. Sou conhecido nacionalmente e não se pode falar em culinária goiana sem pensar em mim.
Aliás, eu já fazia parte do cardápio alimentar dos índios quando o Anhanguera chegou a Goiás. Não entendo porque minha espécie não está representada em nossa bandeira.
Mas depois de tudo que eu disse, quero mesmo é pedir socorro. Vocês estão destruindo todo o bioma do cerrado, não respeitam as pequenas nascentes e veredas, prejudicando as vazantes dos córregos e rios.
Desmatam as reservas legais e áreas de preservação permanente que são as cabeceiras e margens dos rios e riachos provocando assoreamento nos mesmos.
Desmatam cerrados em regiões onde as comunidades coletam seus frutos, para a sua alimentação e é fonte de renda para suas famílias, como também, vegetações exploradas para artesanatos.
É necessário que vocês conciliem com inteligência a produção com a preservação, pois assim fazendo, a natureza lhes dará de graça água para matar a sede, peixes, frutos e cereais para sua alimentação.
A natureza é generosa, olhem para mim, em meus pés tenho cimento e asfalto, e acima de minha copa espigões de concretos que me atrapalham receber os raios do sol. Para piorar um homem insensível com sua moto-serra feriu-me de morte, tirando um naco de quase 40 cm de meu tronco e mesmo assim busquei força e aqui estou florido e dando um toque de beleza em sua cidade.
Finalizando, espero que vocês aprendam que preservando a natureza vocês preservam a vida no planeta. Destruindo-a, vocês serão destruídos com ela.
Sr. João Bosco, Lúcia Machado e Beatriz observando o pequizeiro de perto. |
João Bosco Paiva de Oliveira
(Avô da ex-aluna Beatriz Paiva Martins de Oliveira)
(Avô da ex-aluna Beatriz Paiva Martins de Oliveira)
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